
Em meio à onda de denúncias que atinge o Senado há mais de duas semanas, a cota de passagens aéreas disponível por mês para cada parlamentar foi colocada em xeque nesta segunda-feira. A senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso, é acusada de usar em março parte da cota de passagens do Senado para custear a viagem de sete parentes, amigos e empresários do Maranhão para Brasília.
Reportagem publicada pelo site “Congresso em Foco” afirma que a viagem de ida e volta dos amigos e parentes da senadora foi operada pela agência Sphaera Turismo, de Brasília. Desde 2005, a empresa atende os senadores e servidores da Casa nos deslocamentos aéreos.
Resolução editada pelo Senado em 1998 regulamenta a utilização das passagens aéreas pelos parlamentares. O texto, porém, não estabelece restrições para o uso das passagens somente pelos senadores. A resolução detalha apenas como as passagens devem ser utilizadas - com trechos para os Estados de origem e para o Rio de Janeiro, antiga capital do país.
O senador Heráclito Fortes (DEM-PI), primeiro-secretário do Senado, disse que não viu irregularidades no repasse das passagens de Roseana aos parentes. Na avaliação do senador, responsável por assuntos administrativos da Casa, cada parlamentar é livre para escolher como utiliza as suas passagens —com o único impedimento de vendê-las. “Cada senador tem o seu critério, essas cotas são individuais. Viaja senador, familiar do senador. Não tem nenhuma regra proibitiva. Desde que eu acho que seja conveniente para mim, eu posso dar [a passagem]”, afirmou.
Entre as pessoas que teriam utilizado as passagens de Roseana está a cunhada da senadora, Teresa Murad Sarney, que é esposa de Fernando Sarney - investigado junto com a mulher pela Polícia Federal, na Operação Boi Barrica. Além da cunhada, estaria na lista a esposa do empresário Eduardo Carvalho Lago, Rosa Lago - que manteriam negócios com Fernando Sarney, irmão de Roseana.
Heráclito disse que a lista de sete amigos e parentes de Rosena, divulgada pelo site, não é verdadeira. “Não são todas as pessoas que estão citadas ali. Tem pelo menos dois nomes que não estavam entre os que receberam passagem”, afirmou.
O primeiro-secretário disse que não vai solicitar investigações das denúncias contra Roseana uma vez que a responsabilidade sobre o uso das passagens é exclusiva de cada parlamentar. Irritado com o excesso de denúncias contra a Casa, Heráclito desabafou. “Eu acho que tem que fechar o Congresso. Essa campanha [contra o Senado] não está sendo justa. Cadê as ONGs e as irregularidades do Poder Executivo?”, questionou.
Procurada pela Folha Online, Roseana não retornou as ligações para comentar as denúncias.
Acusações – Desde que o senador José Sarney (PMDB-AP) assumiu a presidência do Senado, vieram à tona uma série de denúncias que arranharam a imagem da Casa Legislativa —a maioria referente a irregularidades que tiveram início antes dele ocupar o cargo. Heráclito solicitou hoje a instauração de sindicância para apurar denúncia da contratação de familiares de servidores do Senado em empresas terceirizadas, o que contraria a resolução antinepotismo (contratação de parentes) editada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Reportagem da Folha também mostrou que mais de três mil funcionários da Casa receberam horas extras durante o recesso parlamentar de janeiro. Além disso, há duas semanas, Agaciel Maia, então diretor-geral do Senado, deixou o cargo após a Folha revelar que ele não registrou em cartório uma casa avaliada em R$ 5 milhões.
Na semana passada, o diretor de Recursos Humanos do Senado, José Carlos Zoghbi, pediu exoneração depois de ser acusado de ceder um apartamento funcional para parentes que não trabalhavam no Congresso.
(Gabriela Guerreiro - Folha Online, em Brasília)
0 comentários:
Postar um comentário